CU050112-007hrO que é a racionalização? É uma palavra bastante longa, e não sai da língua sem um pouco esforço. Muitos de nós não estamos muito cientes da racionalização, mas ela é uma parte de nós. Embora raramente pensemos na racionalização, fazemos a racionalização em nossos pensamentos quase todos os dias.

A racionalização é relacionada à justificação. Quando racionalizamos, nós justificamos nossas ações com lógica, com a situação em que passamos, ou com as ações de outros. Muitas vezes passamos por esse processo sem saber que estamos o fazendo. É uma ferramenta poderosa do adversário de tirar-nos de nosso caminho, pouco a pouco.

Por que você fez aquilo?

Um grupo de cientistas psicológicos estavam interessados num certo fenômeno: na cultura ocidental, parece existir uma preferência de nosso lado direito. Para pôr a teoria à prova, os cientistas criaram um plano muito astuto. Eles escolheram três meias de nylon idênticas de cor diferente, e puseram numa mesa dentro de um shopping. Recrutavam as pessoas que passavam para fazer uma “pesquisa sobre a preferência de nylons”.

Os cientistas deixaram que as pessoas tocavam em cada meia e se comparavam uma contra a outra. Pediram que as pessoas avaliassem as meias em sua qualidade e dissessem qual delas elas seriam mais dispostas a comprar.

Embora os cientistas trocassem as meias de posição várias vezes, sempre achavam o mesmo resultado: independente da cor, as pessoas quase sempre preferiam as meias que estavam colocadas no lado direito.

Mas quando os cientistas entrevistaram aquelas pessoas, aprenderam algo que talvez seja mais importante ainda. Perguntaram as pessoas, “Por que você escolheu aquela meia?”. Para a surpresa dos cientistas, as pessoas vinham com respostas diversas e inconsistentes. “Escolhei porque aquela meia era a melhor de qualidade.” diz um. Outro disse: “É claro que a meia que escolhi era a mais suave!” Lembrem-se que todas as meias eram idênticas! De todas as pessoas, ninguém respondeu que escolheu porque a meia estava do lado direito.

Que lição podemos tirar disso? Muitas vezes, escondemos os motivos verdadeiros de nossas ações. Quando não pensamos nestes motivos, inventamos motivos que parecem fazer sentido. Ou pior– quando estamos embaraçados sobre os verdadeiros motivos, cobrimo-los com motivos falsos. Na pesquisa das meias, as pessoas tinham se convencido completamente de seus motivos falsos. Quando os cientistas revelaram o seu verdadeiro motivo, as pessoas ficaram incrédulas.

Estou Preocupado Demais com a Política Externa de Nosso País

No seu discurso de conferência em Outubro de 2014, na sessão de sacerdócio, o Élder Quentin L. Cook nos advertiu sobre a racionalização. Ele ilustrou o princípio com a seguinte historia.

mormon-Cook“Quando eu era um jovem advogado na região da Baía de San Francisco, nosso escritório fez um trabalho jurídico para a empresa que produzia os programas especiais de televisão da Turma do Charlie Brown.1 Tornei-me fã de Charles Shulz e de suas criações: Peanuts, com Charlie Brown, Lucy, Snoopy e outros personagens maravilhosos.

Uma de minhas tiras de história em quadrinhos favorita envolvia a Lucy. Pelo que me lembro, o time de beisebol do Charlie Brown estava em um jogo importante; Lucy estava na defesa e uma bola foi rebatida bem alto na direção dela. As bases estavam todas ocupadas, e aquele era o último tempo da nona rodada. Se Lucy apanhasse a bola, seu time venceria. Se ela derrubasse a bola, o outro time ganharia.

Como podia acontecer só numa história em quadrinhos, todo o time rodeou Lucy quando a bola desceu. Lucy estava pensando: “Se eu apanhar a bola, serei a heroína; se não, serei a frangueira”.

A bola desceu, e sob os olhares ansiosos de seus companheiros de time, Lucy derrubou a bola. Charlie Brown jogou a luva no chão, frustrado. Lucy, então, olhou para seus companheiros de time, pôs as mãos na cintura e disse: “Como vocês esperam que eu apanhe a bola se estou preocupada com a política externa de nosso país?”

Essa foi uma das muitas bolas rebatidas que Lucy derrubou ao longo dos anos, e ela sempre tinha uma nova desculpa a cada vez. Embora divertidas, as desculpas da Lucy eram racionalizações. Não eram razões justificáveis para ela derrubar a bola…

Creio que é de particular importância em nossos dias, nos quais Satanás está se apoderando do coração dos homens de tantas maneiras novas e sutis, que nossas escolhas e decisões sejam feitas com muito cuidado, de modo condizente com as metas e os objetivos pelos quais professamos viver. Precisamos de um comprometimento inequívoco com os mandamentos e de estrita aderência aos convênios sagrados. Quando permitimos que as racionalizações nos impeçam de receber as investiduras do templo, de servir missão dignamente e de casar-nos no templo, elas são particularmente prejudiciais. É muito triste quando professamos crer nessas metas, mas negligenciamos a conduta diária exigida para alcançá-las.”

Quando a Racionalização Torna-se Perigosa

As duas histórias que foram compartilhadas até agora são bem engraçadas. Vemos como a racionalização pode ser um pouco ridícula. Mas quando essa justificação torna-se perigosa?

1.A racionalização é perigosa quando nossas ações não refletem nossas metas

Se tivermos metas, devemos nos esforçar a atingí-las. Se perguntasse a todos seus amigos e familiares se “estavam trabalhando para atingir suas metas”, duvido muito que alguém dissesse: “Não estou trabalhando nem um pouco. Estou fazendo absolutamente nada para atingir as minhas metas.”

Geralmente quando o tempo passa e nossas metas ficam para fazer depois, damos desculpas e “razões situacionais” para explicar a nossa falha. Já ouviu: “Não tive o tempo suficiente!” ou “Estou sob tanta estresse no trabalho que não deu para fazer” ou talvez “Vou chegar lá, eu só preciso de mais tempo e menos pressão.” Essas são justificações, e não nos ajudam a chegar às nossas metas.

Élder Cook afirmou:

“Recentemente conheci um excelente rapaz adolescente. Suas metas eram: ir para a missão, terminar os estudos, casar no templo e ter uma família fiel e feliz. Fiquei muito contente com suas metas. Mas, ao continuarmos nossa conversa, ficou evidente que sua conduta e as escolhas que estava fazendo não condiziam com suas metas. Senti que ele sinceramente queria ir para uma missão e estava evitando transgressões graves que o impediriam de servir, mas sua conduta no dia a dia não o estava preparando para os desafios físicos, emocionais, sociais, intelectuais e espirituais que enfrentaria. Ele não estava inclinado a trabalhar arduamente. Não levava a escola nem o seminário a sério. Freqüentava a Igreja, mas não tinha lido o Livro de Mórmon. Passava muito tempo jogando videogames e na mídia social. Parecia achar que seria suficiente apresentar-se para sua missão. Rapazes, renovem seu compromisso de ter uma conduta digna e uma preparação séria para se tornarem emissários de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.”

2. A racionalização é perigosa quando sentimos “confortáveis”

Élder Cook certamente despertou a consciência de muitos rapazes jovens adultos quando ele discursou claramente a doutrina de Deus sobre o seguinte assunto:

“Alguns jovens professam sua meta de casar no templo, mas não namoram pessoas dignas de entrar no templo. Para dizer a verdade, alguns nem mesmo namoram! Vocês, homens solteiros, quanto mais tempo ficam solteiros após chegarem à devida idade e maturidade, mais confortáveis podem se tornar. Porém mais desconfortáveis vocês deveriam se sentir! Por favor, “[ocupem-se] zelosamente” em atividades espirituais e sociais compatíveis com sua meta do casamento no templo.

Alguns adiam o casamento até terminarem os estudos e conseguirem um emprego. Embora isso seja amplamente aceito no mundo, esse raciocínio não demonstra fé, não cumpre os conselhos dos profetas modernos e não é compatível com a sã doutrina.”

  1. A racionalização é perigosa quando cria o orgulho

O orgulho é um pecado que gradualmente estrangula e asfixia o espírito, enquanto a pessoa afetada pensa que está cada vez melhor. Quando justificamos todos nossos erros, podemos esquecer de nossas fraquezas e pensar que somos sem falha. Élder Cook nos adverte de uma certa forma de orgulho, que acontece quando achamos que somos “donos da verdade”.

mormon-jesus-cristo-doutrina“Sinto-me particularmente preocupado com a insensatez e com a obsessão por “todas as novidades”. Na Igreja, incentivamos e comemoramos a verdade e o conhecimento de todo tipo. Mas, quando a cultura, o conhecimento e os hábitos sociais estão afastados do plano de felicidade de Deus e do papel essencial de Jesus Cristo, há uma inevitável desintegração da sociedade. Em nossos dias, a despeito de progressos sem precedentes em muitas áreas, especialmente na ciência e nas comunicações, os valores básicos essenciais foram corroídos e a felicidade e o bem-estar gerais diminuíram.

Quando o Apóstolo Paulo foi convidado a falar no Areópago, em Atenas, encontrou parte dessa mesma pretensão intelectual e dessa ausência da verdadeira sabedoria que vemos nos dias atuais. Em Atos lemos o seguinte: “Pois todos os atenienses e estrangeiros residentes, de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir alguma novidade”. A ênfase de Paulo era a Ressurreição de Jesus Cristo. Quando a multidão se deu conta da natureza religiosa de sua mensagem, alguns zombaram dele. Outros essencialmente o descartaram, dizendo: “Acerca disso te ouviremos outra vez”. Paulo deixou Atenas sem ter nenhum sucesso. Dean Frederic Farrar escreveu o seguinte sobre essa visita: “Em Atenas, ele não fundou nenhuma igreja, para Atenas não escreveu nenhuma epístola, e lá, embora frequentemente passasse pelas vizinhanças, nunca mais voltou a pôr os pés”.”

Oro que possamos evitar de toda forma a racionalização. Que lembremos das meias de nylon, e lembremos da Lucy a próxima vez que fazemos um erro. Sei que quando evitarmos esse padrão destrutivo, seremos mais felizes e mais pertos de Deus.

Este artigo foi escrito por Payton Jones

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