Alguns anos atrás, não muito tempo depois que minha irmã foi diagnosticada com câncer, eu me senti imobilizada pelos meus medos. Eu parecia não conseguir me livrar do abismo da ansiedade, um frio no estômago que me acompanhava do momento em que eu me levantava até quando ia dormir. Eu tinha medo de perdê-la. Medo de vê-la sofrer, medo da minha incapacidade em ajudá-la a passar por isto, um medo que dominava minha mente. Não importava qual cenário se apresentasse, eu sempre me via com grande medo.
Eu orei por paz. Houve momentos em que eu tive vislumbres dela, mas eram momentâneos. Eu acreditava que esses momentos de paz eram breves, porque o Senhor desejava que eu reconhecesse o quão preciosos eram e que verdadeiramente era um dom que vinha Dele, e talvez se eu o sentisse o tempo todo, chegaria o momento em que eu não lhe daria mais o devido valor. Por esse motivo, eu simplesmente aceitei que teria que viver a vida com o medo.
Assim foi, até que participei de um serão na BYU (Universidade Brigham Young) com o Elder Roger Merrill. Eu nunca me esquecerei do efeito que suas palavras tiveram sobre mim. Ele disse que Satanás estava procurando destruir os membros da Igreja através de sentimentos de duvida e medo. Ele disse: “Devemos ter tolerância zero em relação ao medo e a dúvida em nossas vidas!” Tolerância zero? Eu pensei comigo mesma, “Como eu posso ter tolerância zero com algo que é uma reação involuntária?” Eu podia entender como esse conceito se aplicava ao uso de drogas, pornografia, ou em qualquer coisa em que poderíamos exercer nossa ESCOLHA e evitar, mas como eu poderia rejeitar o que parecia para mim uma reação involuntária e fora do meu controle?
Eu refleti sobre isso por vários dias e então pensei em como Cristo lidou com as tentações no deserto. Cada vez que Satanás o tentava, Ele usava o poder das escrituras para resistir a ele. Claro, eu sabia que ler as escrituras era um método eficiente para dispersar o medo e a duvida, mas eu não podia lê-las a cada segundo do dia, será que poderia? Acima de tudo, eu estava usando o poder da Palavra do modo que Cristo usou?
Eu examinei profundamente os pensamentos que estava me permitindo ter. Muitos deles eram cheios de duvida e medo. Embora a aparência inicial daqueles pensamentos e sentimentos parecessem involuntários, estaria eu me esforçando para expulsá-los de minha mente? Eu havia ouvido falar que um pássaro pode pousar em sua cabeça, mas não precisaria fazer um ninho lá. Eu percebi que havia hospedado em minha mente intrincados ninhos, resultados dos efeitos do medo e da dúvida. Eu percebi que muitos desses pensamentos haviam se tornado um entretenimento “inocente” que afrontavam diretamente tudo aquilo em que deveria acreditar. Em essência, eles eram um insulto ao Senhor. Não era de se admirar que eu não tinha paz. Eu estava afastando o espírito.
Eu sabia o que fazer. Ao aumentar minha consciência desses pensamentos, eu poderia identificar cada vez que um deles entrasse em minha mente e o consideraria como um dardo inflamado voltado contra mim, e então, levantaria meu escudo da fé com o poder da palavra de Deus em posição de combate.
Por exemplo: Quando eu saia da casa da minha irmã, sabendo que sua situação estava se deteriorando e pensando em todas as coisas que não faríamos mais juntas, eu pensava: “Isto não era para ter acontecido.” Eu imediatamente diria, (algumas vezes, mesmo em voz alta) “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28), ou “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” (Provérbios 3:5) Ou, quando eu pensava em tudo aquilo que ela não faria em sua vida, e algo negativo viria a minha mente dizendo: “Isso não é justo,” Eu imediatamente diria a mim mesma o que Joseph Smith ensinou: “Todas as perdas serão restituídas a nós na Ressurreição se permanecermos fiéis. Pelo poder do Todo Poderoso eu assim vi.”
Outro galho do meu ninho de medo e duvida era proveniente dos meus pensamentos de pena de mim mesmo. “Eu não teria mais ninguém de minha família. Por que isto tinha que acontecer comigo?” Eu iria expulsá-los com , “Todas essas coisas te servirão de experiência e serão para o seu bem. O Filho do Homem desceu abaixo de todas elas. És tu maior do que Ele?” (D&C 22:7-8) ou “Porque o Senhor corrige o que ama” (Hebreus 12:6).
Um dos pensamentos mais difíceis para mim foi, “Por que ela precisa sofrer tanto?” Eu então lembrei das palavras de Pedro que disse, “Nossos desafios serão mais valiosos para nós que o ouro.” (1 Pedro 1:7) E eu sabia que mesmo que eu fizesse tudo em meu poder para aliviar seu sofrimento eu não deveria considerar Deus responsável, porque é através de nossos sofrimentos é que aprendemos a conhecê-Lo.
A coisa mais maravilhosa que senti foi o efeito imediato que este exercício teve sobre mim. O Espirito Santo se sentiu tão atraído por estes pensamentos que a duvida e o medo simplesmente não puderam permanecer. Eu percebi que o Senhor estava honrando meus esforços com uma porção de Seu Espirito, que minha ansiedade começou a se dissipar quase que instantaneamente. E a paz que acompanhava esses pensamentos e palavras permaneceram comigo por muito mais tempo. Na verdade, posso senti-lo ainda hoje, mesmo depois de todas as terríveis coisas que temia passar. Esta paz estava lá para me suster através dos últimos dias e momentos da sua vida e além.
Hoje, eu me encontro fazendo as mesmas coisas com outros medos de minha vida – receios sobre os meus filhos, netos, trabalho e o futuro. Todos os “E se?” em minha vida. E a cada momento que aqueles pensamentos vêem a minha mente, eu sou capaz de levantar o escudo da fé e verdadeiramente me defender dos dardos inflamados do medo e da duvida que podem ser debilitantes e ameaçar a vida abundante e minha habilidade para servir.
No passado, eu certamente poderia citar aquelas escrituras se eu estivesse preparando um discurso ou uma lição, mas eu não as estava usando como o Salvador havia usado contra as tentações incapacitantes da duvida e do medo.
Quando eu compartilhei com minha classe do instituto na BYU sobre a minha experiência, decidimos praticar esse exercício em classe. Eu os desafiei a compartilhar um pensamento negativo ou um dardo inflamado.
Eles me disseram coisas como, “Eu sou um perdedor.” Então nós citaríamos uma escritura que repelisse aquele dardo, como “O valor de MINHA alma é grande a vista de Deus.” Ou, se seus pensamentos fossem, “ELE é um perdedor,” “O valor de SUA alma é grande aos olhos de Deus.”
E assim por diante.
“Eu tenho muitas fraquezas, nunca vou conseguir.” – “Eu irei a Cristo e serei aperfeiçoado Nele.”
“Isto é muito difícil para mim.” – “Com Deus nada é impossível.”
“Estou cansado.” – “Lhe darei repouso.”
“Tenho medo.” – “Eu não lhes dei o espirito de temor.”
“Me sinto sozinho.” – “Eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo.”
Em questão de minutos o espirito naquela sala estava tão forte, testemunhando a todos nós, uma vez mais, o poder da Palavra.
Isso aconteceu porque elas são mais do que apenas palavras. Elas são mais do que belas frases em uma mensagem de encorajamento. Elas são mais do que declarações de incentivo. Estas palavras, pronunciadas com fé, liberam o poder das verdades que representam. Estas palavras são as palavras de Cristo, que nos permite falar a língua dos anjos e sermos ministrados por eles.
Estas são as palavras do Verbo revestido de carne, palavras proferidas por Ele e por quem possui o poder de criar todas as coisas a nós manifestado. Estas palavras, proferidas com fé, nos dão acesso a uma fonte divina de graça e de verdade que não pode ser encontrada de nenhuma outra maneira.
Desde que era criança, eu tenho lutado com o medo e a ansiedade. Eu sei que esta é a verdade que tive que aprender e reaprender em minha vida. Mas, eu testifico do poder que experimentamos quando demonstramos fé na Palavra de Deus para vencer os dardos inflamados do adversário. Eu testifico que não preciso viver minha vida com uma ansiedade debilitante, seja voando em um avião, ou pelo bem-estar dos meus filhos e netos.
Na literatura, existem lendas que nos contam que se uma pessoa usa uma certa palavra, seus inimigos podem ser aniquilados pela mera pronuncia dela. Poder não antes acessível, se torna disponível por intermédio desta palavra.
Talvez esses relatos surgiram inspirados pela verdade de que a Palavra de Deus, o Verbo que se tornou carne em Cristo, que deu-nos a Sua palavra, que todas as coisas podem ser obtidas por aqueles que O amam e procuram viver pelo poder dela.
Elder Holland disse:
O Salvador disse, “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; … Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).
Eu digo a todos vocês que existe um mandamento do Salvador, que mesmo no coração dos Santos dos Últimos Dias mais fiéis, é quase universalmente desobedecido; e também me pergunto se a nossa resistência a este convite não inflige uma pungente dor ao coração misericordioso do Senhor. Mas, uma coisa eu posso lhes dizer, que como pai, eu estaria muito preocupado se um dos meus filhos estivessem seriamente envolvidos em problemas, infelizes ou fossem desobedientes, e no entanto, eu estaria infinitamente mais desolado se eu soubesse que em momentos como esses, meus filhos acreditassem que não poderiam confiar em mim para que eu os ajudasse ou pensassem que não me importava com eles, ou se sentissem inseguros em relação aos meus cuidados. Nesse mesmo espírito, estou convencido de que nenhum de nós pode imaginar quão profundas são as feridas no amoroso coração do Salvador do mundo, quando Ele descobre que seu povo não se sente confiante em seus cuidados ou seguro em suas mãos ou não confiam em Seus mandamentos . “(Come Unto Me, Ensign, abril de 1998, p. 19)
E eu acrescentaria “que confiemos em suas palavras.”
“Buscai-me em cada pensamento, não duvideis, não temais.” Doutrina e Convênios, Seção 6:36
Extrato do diário de
Bianca Palmieri Lisonbee 2006
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