Meu Conselho para os Futuros Missionários
Para mim, sempre foi intrigante, como duas pessoas diferentes pode viver a mesma situação e sair dela com duas impressões totalmente diferentes do que viram, ouviram e sentiram. Eu gosto de falar sobre isso com nossos novos missionários, quando chegam em nossa missão a fim de embarcar em sua aventura no campo missionário.
Algumas vezes, vemos dois tipos de pessoas servindo o mesmo tipo de missão, freqüentemente tendo as mesmas experiências, mas indo embora com duas visões diferentes da mesma. Por que isto acontece?
Podemos ler no Livro de Mórmon um excelente exemplo disto. Em 1 Néfi 17:20-21 lemos o relato do tempo em que Lamã e Lemuel passaram no deserto.
“…E temos vagado no deserto por todos esses anos; e nossas mulheres têm trabalhado, ainda que grávidas; e tiveram filhos no deserto e suportaram todas as coisas, exceto a morte. E teria sido melhor que tivessem morrido antes de deixar Jerusalém, do que suportar todas essas aflições.
Eis que temos padecido durante todos estes anos no deserto, quando poderíamos ter usufruído nossos bens e a terra de nossa herança; sim, e poderíamos ter sido felizes.”
E então, podemos ler a visão de Néfi sobre o mesmo assunto em 1 Néfi 17:1-3
“… E viajamos e passamos por muitas aflições no deserto; e nossas mulheres tiveram filhos no deserto. E tão grandes foram as bênçãos do Senhor que, enquanto vivemos de carne crua no deserto, nossas mulheres tiveram bastante leite para seus filhos e eram fortes, sim, tanto quanto os homens; (Eu sempre gosto de ressaltar este versículo para as nossas missionarias aqui no Brasil) e começaram a suportar as viagens sem murmurar…”
Mais uma vez, por que a mesma experiência é encarada de modo tão diferente pelas várias pessoas que a viveram? Será que podemos comparar a analogia do copo meio cheio ou meio vazio? Eu acho que isso vai muito mais além do que encarar a vida de uma maneira mais positiva. Mesmo, Néfi, começa nos dizendo que não era fácil. Não é o caso de alguém em negação procurando encobrir as dificuldades que enfrentou. Eu acredito que este tipo de perspectiva somente pode ser obtida quando vemos a vida através das lentes do Espírito.
Eu sempre digo aos missionários que algumas vezes podemos nos sentir ao mesmo tempo como Lamã, Lemuel e Néfi! Freqüentemente, parecem surpresos quando admito a eles que eu posso ter os dois pontos de vista. Eu, então, compartilho com eles um trecho de duas cartas de uma maravilhosa missionária. Que sua (ela não pertence a nossa missão) mãe compartilhou comigo muitos anos atrás. Veja o quanto suas palavras representam tão bem as duas diferentes visões de sua missão. Nada realmente havia mudado entre uma carta e outra, mas sua visão sim!
A primeira carta:
“Mãe, estou tão cansada. Isto é tão difícil. Ninguém se ofereceu para nos dar o almoço. Eu não tenho dinheiro para comprar nem pão e manteiga. Subimos uma montanha hoje e eu pensei que fosse morrer. Meu corpo estava coberto de mordidas de insetos. Eu sou alérgica a poluição e a gatos e todo mundo aqui tem gatos. Tudo é tão caro e todo mundo é pobre. Incluindo eu. Meu coração esta partido, porque meu namorado me deixou. Eu também me sinto desencorajada. Eu continuo a sentir a pressão de que não sou boa o suficiente. Mas, vou continuar avante. Eu sei que minha companheira me foi dada para que eu aprendesse paciência. Eu tenho chorado muito ao orar por ajuda. Eu não sabia que ser uma missionaria seria uma das coisas mais difíceis que eu faria, mas eu vou continuar com fé, confiando que posso fazer isto.”
Oito meses depois:
Mãe, eu me sinto como os Jovens Guerreiros, eu não sou perfeita, mas eu estou colocando minha fé no Senhor. Agora, ele pode me usar para vencer a batalha contra Satanás. Eu amo tanto o Senhor. Ele nunca desistiu de mim e eu não vou desistir Dele. Mãe, o Senhor tem mais fé em mim do que eu mesmo. Meus pesquisadores são demais. Eu não tenho mais medo. Temos tantos pesquisadores para levar a Cristo. Estou tão feliz de estar fazendo algo útil da minha vida. Tivemos tantos milagres esta semana, nunca senti o Espirito tão forte. O tempo esta voando. Eu posso fazer isso. Eu posso fazer qualquer coisa. Eu amo cada segundo de minha missão. Eu não sinto mais saudade de casa. Eu amo as pessoas daqui. Eu adoro ensinar em três línguas. Eu amo o trabalho. Eu amo minha companheira. Espero servir uma missão com meu futuro marido algum dia. Mãe, eu sinto saudades de você, mas nunca mais quero voltar para casa.”
Certamente, podemos atribuir a dramática diferença entre o humor da jovem, aos normais altos e baixos da vida missionária. Mas também, podemos ver na segunda carta que ela estava vivenciando o milagre de perder a vida para encontrá-la. Como é que um missionário, ou qualquer pessoa consegue isso? Novamente, podemos encontrar algumas respostas em primeiro Néfi.
No versículo 21 do capítulo 17, podemos ver que Lamã e Lemuel se concentraram no que haviam deixado para trás. Eles estavam presos na lembrança daquilo que seu lar podia lhes oferecer. Para o novo missionário pode ser difícil deixar todos os confortos do lar e da vida pré-missão. É fácil ser pego no “poderíamos ter usufruído de nossos bens; sim, e poderíamos ter sido felizes.”
E então, no versículo 3, Néfi revela algumas chaves que podem nos ajudar a mudar nossas lentes e os sentimentos da perseguição, autocomiseração e desencorajamento para a da gratidão.
Ele disse:
“E assim vemos que os mandamentos de Deus devem ser cumpridos. E se os filhos dos homens guardam os mandamentos de Deus, ele alimenta-os e fortalece-os e dá-lhes meios pelos quais poderão cumprir as coisas que lhes ordenou; portanto ele nos deu os meios de sobrevivermos enquanto permanecíamos no deserto.”
Assim aprendemos que, para um missionário e para todos nós, obediência é a primeira grande chave para desenvolver essa lente.
Néfi também nos dá outra chave essencial, e é através da oração. No início de seu relato, aprendemos que mesmo ele também tinha o potencial de ter endurecido seu coração sobre o que seu pai estava pedindo-lhes que fizessem. Vemos no versículo 16 do capitulo 2 que Néfi disse:
“Clamei, portanto, ao Senhor; e eis que ele me visitou e enterneceu meu coração, de maneira que acreditei em todas as palavras que meu pai dissera; por esta razão não me revoltei contra ele, como meus irmãos.”
Eu acho que Néfi está nos dizendo aqui, que se ele não tivesse feito estas coisas (ser obediente e procurar o Senhor através do poder da oração) ele poderia ter se encontrado no mesmo estado que seus irmãos. Sem o Espirito, que a contínua obediência e oração nos proporcionam, não teríamos todos nós encarado os rigores da jornada terrena da mesma maneira? Sem o Espírito, como é que nós podemos ter o desejo e a força para sacrificar de uma forma que nos permite perder-nos no serviço aos outros? C. S. Lewis parece compreender muito bem a diferença que o Espirito pode ter no modo em que vemos nosso tempo na terra, tanto hoje quanto na eternidade. Uma das minhas citações favoritas dele diz:
“Não podemos, em nosso estado presente, compreender a eternidade…é isso que os mortais não entendem. Eles dizem do sofrimento temporal. ‘Nenhuma felicidade futura pode compensar isso,’ ignorando que os Céus, quando alcançado, irá retroagir e converter até mesmo aquela agonia em glória. E de algum prazer pecaminoso eles dizem: ‘Deixe-me desfrutá-lo, eu vou assumir as conseqüências,’ ignorando que a condenação também retroagirá e a volta a seu passado contaminará o prazer do pecado. Ambos os processos começam mesmo antes da morte. O passado do homem de bem começa a mudar, de modo que seus pecados perdoados e tristezas incorporam as qualidades do Céu; o passado do homem mau já está em conformidade com a sua maldade e é preenchido apenas com melancolia. E é por isso … que o Bem-aventurado vai dizer: ‘Nós nunca vivemos em nenhum outro lugar a não ser no Céu’, e o Condenado vai dizer: ‘Sempre estivemos no inferno’ e ambos estarão falando a verdade.”
Eu digo aos nossos missionários que somos todos como Lamã e Lemuel, e também somos todos como Néfi. Algumas vezes, ambos coexistem em nós simultaneamente. E está tudo bem. O que importa é como escolhemos reagir. A missão é dura. Ela é uma jornada no deserto. Ela nos faz ajoelhar e pensar porque deixamos o conforto de nossos lares e família onde éramos felizes. Mas eu testifico que se formos obedientes e rogarmos ao Senhor por ajuda, seguir avante no serviço aos outros, no fim de nossa missão, seremos aqueles que, como Néfi, vão olhar para trás e se regozijar pelo tempo gasto, e ser capaz de dar testemunho da mão do Senhor e Seus milagres, e vamos declarar como Néfi: “o Senhor forneceu os meios pelos quais cumprimos as coisas que ele nos tinha ordenado.”
Este artigo foi escrito por Bianca Palmieri Lisonbee
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