Logo depois de ter me batizado na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, eu percebi que tinha muita coisa para aprender. Em pouco tempo, recebi muita informação relacionada a doutrina e a história da Igreja. De muitas maneiras, foi uma época gloriosa, a medida que lia incessantemente sobre o evangelho e sentia esse conhecimento se depositar sobre mim. Mesmo as canções da Primária pareciam tão familiar. Algumas vezes, eu parecia sentir que tudo o que deveria fazer era olhar para as palavras dos livros e seu significado era instantaneamente impresso em minha alma.
Mas existiam outras coisas que eram difíceis de compreender. Na época, eu trabalhava na biblioteca da BYU e parte da minha responsabilidade era ler e catalogar literatura anti-mórmon. Foi nesse momento que criei em minha mente uma analogia sobre as coisas que eu não podia compreender a respeito da Igreja ou do Evangelho.
Eu comparei meu conhecimento da Igreja e das coisas espirituais e a experiência que tive naquele trabalho como um quebra-cabeça. Quando alguém começa a montar um quebra-cabeças geralmente inicia das bordas. Estas peças formam a moldura a partir da qual todas as outras peças serão encaixadas. Qualquer um que já tenha montado um quebra-cabeça desse modo, sabe que uma vez iniciado, é muito fácil de se deparar com uma peça que você acha que jamais poderia se encaixar no quebra-cabeça que você está montando. Isso aconteceu comigo muitas vezes, mesmo quando faltavam poucos peças. Eu cheguei ao ponto de acreditar que determinada peça pertencia a outro quebra-cabeça e havia se misturado por engano com aquele que eu estava montando.
Quando isto acontece, não seria uma pena se simplesmente desistíssemos, acreditando que era perda de tempo continuar insistindo? Ou talvez, perdendo a fé que aquele quebra-cabeça poderia ser terminado e viesse a se parecer com a imagem estampada na caixa, poderíamos simplesmente desistir de tentar e o abandonarmos.
Não seria uma melhor estratégia deixar aquela peça de lado e continuar trabalhando com as outras? Todos nós ja passamos por momentos onde, as vezes, tudo o que precisamos para que aquela peça, que parece não se encaixar, é encontrar outra peça que nos ajude a descobrir onde colocá-la. Talvez, depois de um exame mais cuidadoso, rodando a peça algumas vezes, tentando enxergá-la de um angulo diferente ou sob mais luz, podemos enxergar seu lugar em nosso quebra-cabeças. Este momento é sempre eletrizante, principalmente quando estamos acompanhados de nossos netos.
Em relação ao meu testemunho do Evangelho, eu vejo minhas “peças das bordas” como chaves onde meu testemunho esta ancorado. Elas são as peças fundamentais de que recebi um testemunho através da oração e da influência do Espirito Santo. Para mim, estes são os testemunhos de que Deus vive, responde as orações e me ama. Que Jesus Cristo é o Filho de Deus e que Ele realizou a Expiação, ressuscitou, e estabeleceu a Sua igreja. Que Joseph Smith restaurou a mesma Igreja na terra em nossos dias, e que através dele, outra testemunha de Jesus Cristo, o Livro de Mórmon, foi revelada. Que ele restaurou o Sacerdócio pelo qual os profetas e apóstolos modernos lideram a Igreja hoje.
Tendo estas peças no seu devido lugar, eu posso, então “edificar minha própria salvação,” sempre tendo o olhar fixo na imagem imprensa na caixa que foi fornecida pelas santas escrituras e as palavras dos líderes modernos que me ajudam a conhecer mais sobre como o quebra-cabeças deve parecer quando estiver pronto. Quando me deparo com algo que eu não entendo eu deixo aquilo, ou seja, a peça, de lado e continuo trabalhando com o que tenho. Como seria terrível se eu desistisse de tudo, porque não tenho a paciência ou a fé na promessa de que todas as peças irão eventualmente, se encaixar.
Desde que me tornei um membro da Igreja, muitas das peças que estavam de lado, acabaram encontrando o seu lugar porque eu obtive mais conhecimento, entendi um principio de modo mais completo ou o vi de um ângulo ou ponto de vista diferente. O importante é manter essas peças essenciais no seu lugar. Elas devem agir sempre como a garantia do nosso testemunho por meio do estudo, oração e obediência. Elas são a chave!
Temos bons precedentes nas escrituras de sobre como exercitar a paciência e a fé nas coisas que ainda não entendemos.
Quando o anjo perguntou a Néfi, se ele compreendia a condescendência de Deus, Néfi respondeu: “Sei que ele ama seus filhos; não conheço, no entanto, o significado de todas as coisas.” (1 Néfi 11:17) Néfi nos concede um exemplo perfeito daquilo que o Élder Holland diz que devemos fazer, que é prosseguir naquilo que sabemos e não com o que não sabemos. Mais tarde, no Livro de Mórmon, Alma falando da vinda do Messias diz o seguinte: “Ora, a respeito disso nada sei; sei, porém, isto: que o Senhor Deus tem poder de fazer todas as coisas que estejam em conformidade com sua palavra.” (Alma 7:8) Em outro capítulo, Alma, o filho, ao falar sobre certas coisas que acontecerão no futuro, diz: “Ora, estes mistérios ainda não me foram totalmente revelados; portanto me conterei.” (Alma 37:11)
Estes são exemplos de profetas que receberam grande conhecimento espiritual, mas mesmo assim, admitiram que não possuíam todas as respostas, mas se concentravam no que sabiam – que Deus nos ama e Ele é todo-poderoso para fazer as coisas que ele afirma que vai fazer. Eu diria que essas duas coisas seriam, certamente, peças importantes em nosso quebra-cabeça pessoal. E sobre o que eles não sabem, se “abstêm” ou deixam de lado com paciência e fé.
Robert Millet disse: “É tão importante saber o que nós não sabemos como é saber o que sabemos.” Uma parte importante da vida do discípulo fiel está às voltas com os muitos paradoxos, perguntas e ironias que vêm com o território de uma vida religiosa. Isso é parte do que o que o torna tão dinâmico e sim, mesmo “diversão” para trabalhar fora do quebra-cabeça da nossa própria salvação.
Esta vida foi idealizada para adquirirmos conhecimento espiritual por meio do estudo, da oração, da paciência e da fé. (D&C 21:5) Linha sobre linha e preceito sobre preceito. Um pouco aqui, um pouco ali, de graça em graça.
E também foi idealizada para ajudar-nos a compreender aquilo que tem maior valor. Aprendi por mim mesma que as peças que compõem as bordas do meu quebra-cabeça são de grande de valor. E o Senhor nos convida a obter um conhecimento seguro dessas coisas. Ele não fez essas peças difíceis de se identificar, com o propósito de nos enganar ou confundir. Ele estende a todos o mesmo convite “Examinai tudo, retendo o que é bom.” (1 Tessalonicenses 5:21)
Todos nós temos a promessa de que se fizermos aquilo que permitirá que o Espírito Santo esteja conosco, fazendo as perguntas certas, então poderemos saber a verdade de certas coisas agora, e eventualmente, a verdade de todas as coisas.
Este artigo foi escrito por Bianca Lisonbee
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