Explicamos, até agora, que toda a raça humana existiu no mundo anterior, na forma de seres espirituais, e que esta Terra foi criada com o propósito de possibilitar a esses espíritos as experiências da mortalidade. Quando ainda nesse estado espiritual, foram investigados dos poderes de arbítrio ou escolha; e foi parte do plano divino que nascessem livres na carne, herdeiros do direito inalienável de liberdade, para escolher e agir por si próprios na mortalidade. É inegavelmente essencial ao progresso eterno dos filhos de Deus que estejam sujeitos às influências tanto do bem como do mal, a fim de que sejam experimentados e provados, “para ver se farão todas as coisas que o Senhor seu Deus lhes ordenar” ( Jó 38:7). O livre-arbítrio é um elemento indispensável a tal teste.
O Pai Eterno compreendeu bem as naturezas dessemelhantes e a variada capacidade de sua prole espiritual; e sua infinita presciência fez-lhe saber, mesmo no começo, que na escola da vida alguns de Seus filhos venceriam e outros falhariam; alguns seriam fiéis, outros falsos; alguns escolheriam o bem, outros o mal; alguns procurariam o caminho da vida, enquanto outros escolheriam a estrada que leva à destruição. Ademais, previu que a morte entraria no mundo e que a posse de corpos pelos Seus Filhos seria de breve duração individual. Viu que Seus mandamentos seriam desobedecidos e Sua lei violada, e que os homens, expulsos de Sua presença e sozinhos, sucumbiriam em vez de se elevarem, regrediriam em vez de progredirem, e seriam perdidos para os céus. Era necessário prover-se um meio de redenção, pelo qual o homem pecador pudesse fazer reparações e, cumprindo a lei estabelecida, ser salvo e alcançar exaltação nos mundos eternos. O poder da morte deveria ser sobrepujado de forma que, embora tivessem necessidade de morrer, vivessem novamente, com seus espíritos revestidos de corpos imortalizados, sobre os quais a morte não poderia novamente prevalecer.
Que a ignorância e irreflexão não nos guiem ao erro de supormos que a presciência do Pai quanto ao que aconteceria, em dadas condições, haja determinado que o mesmo acontecesse. Não era seu desígnio que as almas dos homens se perdessem; pelo contrário, era e é sua obra e glória “levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem”. * Não obstante, Ele viu o mal em que Seus Filhos por certo cairiam; e com infinito amor e misericórdia, estabeleceu meios para evitar o terrível efeito, com a condição de que o transgressor decidisse beneficiar-se dos mesmos. A oferta do Primogênito de estabelecer, através de Seu próprio ministério entre os homens, o Evangelho de salvação e de sacrificar-Se, através de trabalho, humilhação e sofrimento mesmo até à morte, foi aceita, tornando-se o plano preordenado de redenção do homem da morte, de sua eventual salvação dos efeitos do pecado e de sua possível exaltação através de atos virtuosos.
*”O Pai das almas conferiu a Seus Filhos, desde o berço, o divino privilégio do livre-arbítrio; Ele não os controla e não os controlará por força arbitrária, não impele homem algum ao pecado; não força ninguém à retidão. Ao homem foi dada liberdade para agir por si próprio e, associada a essa independência está a certeza de uma responsabilidade estrita e individual. No julgamento que teremos de enfrentar, todas as condições e circunstâncias de nossa vida serão consideradas. As tendências inatas devidas à hereditariedade, o efeito do ambiente, tendo sido o mesmo conducente ao bem ou ao mal, os sadios ensinamentos da juventude ou a ausência de boa instrução – estes e todos os outros fatores contribuintes devem ser tomados em consideração, ao ser apresentado um veredito justo quanto à culpabilidade ou inocência da alma. Não obstante, a sabedoria divina torna claro qual será o resultado de tais condições agindo sobre as naturezas e disposições conhecidas dos homens, enquanto cada indivíduo é livre para escolher o bem ou o mal, dentro dos limites das muitas condições existentes e operantes.” – Do mesmo autor, A Grande Apostasia, p.21; ver também Regras de Fé, cap. 3.
James Talmage, Jesus o Cristo